Cresce demanda por raças sintéticas entre pecuaristas do Centro-Oeste

Cresce demanda por raças sintéticas entre pecuaristas do Centro-Oeste

A demanda por raças sintéticas, que aliem a qualidade de carne do gado europeu à rusticidade do zebuíno, favoreceu a entrada do Braford no Centro-Oeste. Um exemplo desta procura é o Leilão Fazenda Sucupira e Convidados, que no mês passado chegou à quarta edição, em Brasília.

“Nunca teve venda de touro abaixo de R$ 11 mil”, observa o vice-presidente de Promoção das Raças da Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB), Celso Jaloto. O Hereford, por sua vez, é usado para inseminar vacas nelore, tendo como resultado o meio sangue.

Proprietário da Estância Luz de São João, de São Gabriel, Jaloto também ofertou animais no leilão. A transferência de genética teve início em setembro de 2013 e inclui tanto embriões quanto animais. O novo momento também exigiu adaptações de manejo. No início, comenta Jaloto, os animais cruzados eram manejados da mesma forma que o Nelore. Porém, para demonstrar todo o seu potencial, o gado de sangue taurino exigiu alguns cuidados em termos de nutrição, já que o campo nativo do Rio Grande do Sul é completamente diferente dos que tem o Centro-Oeste, onde predomina o Cerrado.

“Quando começaram a tecnificar (a criação), os resultados foram outros”, conta Jaloto, que afirma que os animais cruzados eram destinados ao abate até 30 dias antes dos zebuínos. O pecuarista conta que no começo houve desconfiança de muitos neloristas, que compraram alguns exemplares taurinos “para experimentar”. O negócio deu certo e no último leilão uma única empresa chegou a arrematar 15 touros. “Sinal de que a coisa deu certo e é um campo que está se abrindo. É carne de qualidade que está sendo produzida e com certeza vai melhorar nossas exportações”, aponta Jaloto.

A procura também tem sido grande pelos terneiros nascidos do cruzamento do Braford com o Nelore. Em leilão recente realizado em Unaí (MG), tanto fêmeas quanto machos foram comercializados com um diferencial de 20% a mais em relação ao Nelore puro, segundo Jaloto. Na avaliação de Jaloto, tecnificação é a palavra de ordem para que a pecuária gaúcha siga atendendo à demanda dos demais estados por genética de qualidade – o que fica ainda mais evidente quando se considera que no Rio Grande do Sul a pecuária perdeu muitas das melhores áreas para a agricultura.

“Não há como competir em volume com o Brasil Central”, admite. “Nós seremos o grande produtor de genética de qualidade”, acredita. A demanda, por enquanto, continua aquecida. Um exemplo recente é o protocolo de tipificação lançado há poucos dias pela JBS com a assinatura “A evolução do paladar”, voltado ao Centro-Oeste. Para se enquadrar, os animais devem ter ao menos 50% de taurinos na sua composição. Segundo Jaloto, a diferença na bonificação chega até a R$ 15 por arroba.

Mercado Gourmet No caso do Angus, o resultado do cruzamento com o Nelore atinge principalmente o mercado gourmet do Brasil. Segundo o gerente do Programa Carne Angus, Fábio Medeiros, esse mercado conta com um volume potencial de 200 mil toneladas por ano, enquanto que o programa de certificação da raça agrega hoje cerca de 30 mil toneladas. “Se o volume produzido crescesse quatro vezes, ainda assim iria haver mercado”, avalia.

O casamento entre a genética europeia e o rebanho do Centro-Oeste também pode beneficiar as exportações, segundo Medeiros. As vendas ao exterior devem ser favorecidas pela atual cotação do real frente ao dólar. “Com o câmbio na faixa dos R$ 3,80, a tendência é de que a rentabilidade seja mais interessante para a exportação e isso vai catapultar ainda mais o interesse das empresas em exportar essa carne gourmet, já que a demanda internacional é fantástica”, resume.

O aquecimento do mercado do Centro-Oeste possibilitou, na atualidade, a descoberta das fêmeas F1 (resultado do cruzamento do Angus com o Nelore) como matrizes. Segundo Medeiros, o animal é considerado extremamente precoce e fértil, a ponto de emprenhar com 14 meses. “É uma nova revolução que vai ampliar em muito o volume de carne produzida e, principalmente, melhorar a produtividade no campo”, define.

Uma mostra do aquecimento do mercado foi observada no final de semana passado, durante o remate Mega Cruza, da Agropecuária Leopoldino, em Água Boa (MT).

O evento, que também contou com um Dia de Campo, terminou com a comercialização de 5.192 animais. Segundo o pecuarista Abel Leopoldino, a demanda do exterior pelo gado em pé impactou na oferta, já que os animais mais pesados foram vendidos nas semanas anteriores ao mercado turco. A agropecuária conta com um plantel de 15 mil matrizes e vem obtendo índices de prenhez próximos a 80% nas fêmeas F1 entre 12 e 14 meses, enquanto no Nelore o tempo pode chegar a 36 meses.

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